O que define o PENSAMENTO,
as três grandes formas do pensamento,
a ARTE,
a CIÊNCIA
e a FILOSOFIA,
é sempre enfrentar o caos,
traçar um plano,
esboçar um plano sobre o caos.
Mas a FILOSOFIA
quer salvar o infinito,
dando-lhe consistência:
eLa traça um plano de IMANÊNCIA,
que leva até o infinito acontecimentos
ou CONCEITOS consistentes,
sob a ação de PERSONAGENSconceituais.
A CIÊNCIA, ao contrário,
renuncia ao infinito
para ganhar a REFERÊNCIA:
ela traça um plano de coordenadas somente indefinidas,
que define sempre estados de coisas,
FUNÇÕES ou proposições referenciais,
sob a ação de OBSERVADORES parciais.
A ARTE
quer criar um finito que restitua o infinito:
traça um plano de COMPOSIÇÃO
que carrega por sua vez monumentos
ou SENSAÇÕES compostas,
sob a ação de FIGURAS estéticas.
As três vias são específicas,
tão directas umas como as outras,
e se distinguem
pela natureza do plano
e daquilo que o ocupa.
Pensar é pensar
por conceitos,
ou então por funções,
ou ainda por sensações,
e nenhum desses pensamentos é melhor que um outro,
ou mais plenamente,
mais completamente,
mais sinteticamente “pensado”.
As molduras da arte não são coordenadas científicas,
como as sensações não são conceitos ou o inverso.
(…)
Os três pensamentos se cruzam, se entrelaçam,
mas sem síntese nem identificação.
A filosofia faz surgir ACONTECIMENTOS
com seus conceitos,
a arte ergue MONUMENTOS
com suas sensações,
a ciência constrói ESTADOS DE COISAS
com suas funções.
Um rico tecido de correspondências
pode estabelecer-se entre os planos.
Mas a rede tem seus pontos culminantes,
onde a SENSAÇÃO
se torna ela própria sensação de conceito, ou de função;
o CONCEITO,
conceito de função ou de sensação;
a FUNÇÃO,
função de sensação ou de conceito.
E um dos elementos não aparece,
sem que o outro possa estar ainda por vir,
ainda indeterminado ou desconhecido.
Cada elemento criado sobre um plano
apela a outros elementos heterogêneos,
que restam por criar sobre outros planos:
o pensamento como heterogênese.
É verdade que estes pontos culminantes
comportam dois perigos extremos:
ou reconduzir-nos à OPINIÃO da qual queríamos sair,
ou nos precipitar no CAOS que queríamos enfrentar.
FILOSOFIA | CIÊNCIA | ARTE | PROBLEMÁTICO | |
PLANO(dx; dy) | Imanência(imagem pensamento) | Referência(eixo coordenadas) | Composição(harmonias e melodias) | GOSTO |
INCÓGNITAS(dy/dx) | Personagens Conceptuais | Observador Parcial | Figuras Estéticas | |
SOLUÇÃO(valores de dy/dx) | ConceitoAcontecimentoVariações insepráveis | FunçãoEstado de CoisasVariáveis independentes | SensaçãoMonumentosVariedades | |
(…)
Os seres da sensação são VARIEDADES,
como os seres de conceitos são VARIAÇÕES
e os seres de função são VARIÁVEIS.
Já agora, recorde-se aqui, do “Diferença e Repetição
“O símbolo dx aparece ao mesmo tempo
como indeterminado,
como determinável
e como determinação.
A estes três aspectos
correspondem três princípios
que formam a razão suficiente:
ao indeterminado como tal (dx, dy),
corresponde um princípio de determinabilidade;
ao realmente determinável ( dy/dx ),
corresponde um princípio de determinação recíproca;
ao efetivamente determinado (valores de dy/dx ),
corresponde um princípio de determinação completa.”
p.287 – “Sintese Ideal da Diferença”